terça-feira, abril 04, 2006

O CÉU GIRA

Estavam cerca de 8 pessoas na sala, algumas a mais do que já começa a ser usual no Avenida. Não fosse a barulhenta menina na conversa e estaria formada uma plateia silenciosa, começou o escurecer das luzes, estava o fresco inicial de uma sala ampla.


Começou o filme, chegámos a Aldealseñor, uma aldeia de Soria, assistimos às vidas pachorrentas de quem já entrou numa espera crepuscular. Os dias sucederam-se ao ritmo do Sol que surge para se pôr mais à tardinha, com as longas sonecas dos cães e as sestas à sombra que cada um consegue fazer entre as várias tarefas que fazem uma aldeia pequena funcionar. Vemos o rebanho a passar ainda não está a neblina da manhã dissipada, acompanhamos a conversa de ocasião sobre todos os assuntos que são notícia...


Nasce entretanto um novo conjunto de moinhos, as grandes torres eólicas vêem-se para além da linha que traça o cocuruto do monte e o palácio que ponteia a aldeia transforma-se numa casa de turismo de habitação...
O tempo passou desde as pegadas de dinossauros, aos castros ibéricos, à aldeia de pedra e aldeões sorridentes, até aos tubos isolados que ligam as torres dos aero-geradores à corrente... o tempo começou num quadro com meninos a apontar o rio, o tempo acabou com a linha do horizonte sublinhada pelo pincel do pintor.

Saí com a sublime sensação de ter roubado a memória a alguém...

El Cielo Gira, de Mercedes Álvarez (Espanha, 2004).
Melhor Filme nos Festivais de Roterdão, Paris e Buenos Aires, onde ganhou também o Prémio da Crítica Internacional.