ORELHICAS

P. saltitava pela rua fora,

cheirava as palhinhas que bordejavam o passeio

e raspava com as unhas a terra seca em cima do lancil!!!

Não era hábito,

mas matutava sobre o cheiro a primavera

que se colava ao pêlo e o perseguia insistentemente!!!

Não era muito dado a grandes ponderações,

mas o seu olfacto teimava em alertá-lo para a vida!!!

Le Potomak de Jean Cocteau

circuito

primeira paragem.

RESSONÂNCIA, BELLE CHASE HOTEL

Estão de regresso os Belle Chase Hotel!!!

Ontem à noite no Casino da Figueira da Foz
novidades só nas histórias do JP Simões,
(se há um entertainer dentro de cada um de nós,
dentro dele há um festival inteiro à espera de pular cá para fora).
As músicas que já todos conhecemos
continuam a soar bem,
diria mesmo cada vez melhor!!!

Foi um bom regresso,

com o requinte do local e da genialidade....

TEXTURAS

Imaginar novos toques,

associar texturas a emoções,

cores a cheiros...

Ver o mundo na ponta dos dedos

e sentir cada som na epiderme!

Dasymutilla aureola pacifica

Eustenopus villosus

Hololena frianta

amplificador

phil spector pretendeu criar uma sensação nos ouvidos resultante da conjugação de orquestrações de inúmeros instrumentos musicais, com predomínio de instrumentos de cordas e percussão [em condições específicas de gravação], que visava formar uma complexa, intensa e uniforme sonoridade [que denominou wall of sound].



[...]

POESIA

Dizia Jorge Silva Melo acerca de Luís Quintais e sua poesia:

Entendo-me bem com esta nomeação dos lugares, lugares visitados, habitados, imaginados, citados de citação, este passeio permanente, esta insistência, como se a poesia fosse, homérica, o imaginado nome que se incrusta na paisagem, na ponte, na praça.

E se a poesia fosse isso: lápide incerta, seta inscrita na parede, caminho de passeante que repetidamente regrassa e caminha, cristalizando, mapa, lista, nomeando Scila e Caribdis onde os geógrafos inventaram o estreito de Messina, se a poesia fosse apenas uma outra geografia, contínua, persistente, interrompida, recomeçada?

BLOQUEIOS

Estou com aquele estigma,

o de ter uma folha em branco

sem saber o que nela escrever...

Vou substituí-la...

por belas folhas de muitas cores!!!

city sickness

[com base na desconfiança mútua, desenvolvera uma relação sólida com a embriaguez. só assim fizera sentido perder a sobriedade quotidiana.]



[fdv]

M. CHAT EN PARIS

Quando se anda de nariz no ar pelas ruas de Paris,
surge por vezes um sorriso inusitado que nos faz sentir
como personagens da Alice no País das Maravilhas.
Não é Cheshire que nos interpela abruptamente
é M. Chat,
produto de um qualquer street artist,
que pespegou em paredes, passeios
e até à frente do Pompidou,
muitos gatinhos bem dispostos,
que sorriem de forma insurrecta a quem passa!

M. Chat [Sophie's Maze]

DENTINHOS DA RODA

Acordei de manhã mas não na minha caminha fofa,

acordei num dentinho de uma roda...

O cinzento da atmosfera não me deixou descansada,

e o barulho da engrenagem era ensurdecedor!

papel japonês

RESSONÂNCIA, BLUES EM SHE...

Tinha muita curiosidade em ouvir T-Model Ford,
um verdadeiro blues man
com condenação por homícídio e tudo...
Mas afinal não foi mr T quem brilhou no palco do TAGV,
foi Sheila Wilcoxson com a sua voz fulgurante
que fez vibrar as cortinas e tudo o resto que estava na sala,
a saltitar de música em música e de estilo em estilo,
sem nunca parar de brilhar.

A luz apagou-se com Tony Lynn Washington.

Coimbra em Blues

Dia 3, para mim apenas o dia 2.
Mr. T não brilhou,
e parecia-me de início que Sherman Robertson
ia só enfastiar com aquela vozinha melosa
de cantor romântico afro-americano.
Mentira, o homem é um bicho de palco!
Arrebatou os mais cépticos, e os menos
(ocorre-me o Headbanger dos Blues, sentado na 1ª fila)
bamboleou pelo palco e pela plateia
encheu a sala de ritmo,
e terminou numa apoteose com o 2º encore,
para uma plateia meio esvaziada de gente
mas repleta de animação!!!

ferramenta

ideias em espiral necessitam de utensílios adequados para as ligar ao plano do concreto.

[...]

contador

quase setenta e sete batatas.



[...]

transição

a primavera está a caminho. através das águas de março.



[fdv]

ninguém

hoje, domingo, a instalação esteve aberta apenas para me receber. aproveitei para vaguear pelas salas vazias. lá fora chovia. pouco, mas chovia.

quase-maniqueísta

[fdv]

EGOS

Há dias em que desconstruir o mundo

é mais fácil do que criar

esferas de alguma relevância!

Prefiro então jogar as peças do espaço

como as crianças tentam resolver o cubo mágico!

[Ni]

CORTAR PELO PICOTADO, ITALO CALVINO

Percorrer cidades oníricas em poucas horas
Saltitar de história em história em poucos minutos
Conhecer o mais profundo dos sentimentos num segundo!

Percorrer a obra deste mestre do conto
é encher o espaço de elementos irreais,
repensar os momentos mais banais
e efabular os rocambolescos devaneios de cada dia!

Italo Calvino

O maior escritor italiano é afinal cubano,
percorreu um longo caminho
que nos legou na sua bibliografia!

Os livros,
distintos no género e no enquadramento,
têm em comum a capacidade de criar sonhos,
de nos fazer viajar, observar e descrever...

AKEBONO

Não gosto muito de lutas, nunca foi muito o meu género!

Mas não consigo resistir às transmissões dos Bashos!

A cerimónia que se desenvolve no dohyo de argila,

o espalhar do sal para purificação...

As regras são simples,

quem sair do dohyo ou tocar com alguma parte do corpo

que não os pés no chão, perde!

Regras tão simples cumpridas pelos Rikishi

resultam num espectáculo quase bizarro,

que prende a atenção durante muitos combates fugazes!

Enquanto vou fazendo zapping

procuro com curiosidade os chon-mage dos rikishi

prontos a investir a partir do Shikiriseu,

sou sempre surpreendida pela agilidade

de corpos tão voluptuosos.

pendurado

um quadro. este. na instalação. esta. sem mais comentários.



1967 : la puerta del sol : maria-helena vieira da silva [1902 1992]

RESSONÂNCIA, LIGETI

Gosto de Ligeti não por me abrir caminho

para sonhos de infância esquecidos ou adormecidos!

Mas por me lembrar que o belo, o bizarro e o grotesco se mesclam!

Por demonstrar que nem tudo é previsível!

György Ligeti

Gosto da forma como me surpreende

enquanto um som delicado,

ou o silência é cortado por um som estridente!

Gosto das notas dissonantes,

gosto da forma como nos apresenta

o penhasco endurecido pelo clima

por entre as nuvens de algodão doce

que cria para nos ludibriar!

São notas magnânimes!

györgy ligeti e a nuvem de sons

partindo das palavras do compositor húngaro, abre-se aqui a janela dos há muito submersos mundos de sonho da infância.



[fdv]

CORTAR PELO PICOTADO, MILAN KUNDERA

O ano de 1929 foi ano de boa colheita!
Nascia em Brno, República Checa, Milan Kundera!

Em livros como,
A Insustentável Leveza do Ser,
Livro dos Amores Rísiveis
e A Vida não é Aqui
alia o humor ao grande estilo e à substância da escrita!

Podia dizer outros, mas estes são os que prefiro!

Milan Kundera

Sussura-nos de modo linear questões e eventos complexos,
pormenorizando-os da forma mais esclarecedora!
Descreve, por vezes de forma dramática,
mas na generalidade delas de forma quase tragico-cómica
a vivência quotidiana no antigo regime soviético,
não fazendo disso ponto de honra

mas sim simples molde de personagens.

EM maiúsculas e MINÚSCULAS

POR SER UM LUGAR COMUM

comentar um evento

através de uma metáfora fotográfica.

esta é a nossa

STRANGE AND UNIQUE WAY

de nos parabenizar por um mês de árdua labuta!

NÃO precisa de ter algo a ver com PREGOS!

É SÓ PORQUE SIM!

já que ninguém comenta...

[fdv_Pequena Lontra]

somos tão perfeccionistas e,

no entanto,

NÃO!!!!!!!!!

COMEDIA, BRIGUELLA

O primeiro bobo inteligente!

Um inventor de estratagemas,

que distorce situações para poder tirar delas o melhor partido!!

Astucioso, brilhante e usurpador,

detem uma beleza gentil e enleante,

que o transforma num predador humano!

[Briguella]

Quem nele repara assume a preocupação

e a memória permanente de uma personagem fria,

calculista e engraçada

cujos sibilos são conspiradores!

SUBTERRÂNEOS

De cada vez que entro num espaço marcadamente antrópico

tenho a sensação de entrar num espaço cénico

e não de passar por um qualquer espaço anónimo do quotidiano.

As estruturas úteis que nos transportam pela vida,

parecem tantas vezes obras de arte!

[Jorge Salgado]

city sickness

[num instante desapareceu. regressou veloz, com o intuito de evidenciar o momento. esteve próximo da janela.]

[fdv]

ESVAIR

Numa pincelada continuamos a criar trilhos,

referências difusas que não tardam a desaparecer!

Enquanto nos concentramos numa pequena mancha,

toda a amálgama de cheiros, cores e texturas

continua a evoluir numa ebulição constante

que só mais tarde nos aglutina!

[Ni]

RESSONÂNCIA, STEREO TOTAL

Não é fácil arrumá-los numa tendência,

mas é muito fácil gargalhar intensamente a ouvi-los.

Tudo começou em 1993, algures numa pastelaria em Berlim,

onde Francoise Cactus e Brezel Göring se cruzaram.

O resultado é frenético,

talvez seja o reflexo da internacionalidade,

dos espaços cosmopolitas e do aqui e agora...

Uma festa inconformista pelo melhor grupo pop!!!!

Stereo Total

city sickness

[apesar do ranger da quinta tábua, subiu a escada degrau a degrau e olhou pela janela. lá fora, já era artificial a luz que cegava os últimos álamos. resolveu permanecer em casa.]

[fdv]

RESSONÂNCIA, EINSTURZENDE NEUBAUTEN

Os destruidores de novos edifícios vão voltar!

Para quem perdeu os Einsturzende ou o sr. Blixa a solo,
surge mais uma oportunidade de pleno deleite!

Os sons que já foram industriais assumem agora uma
constelação estonteante de diversidade!

Blixa Bargeld

Dia 12 de Abril, Grande Auditório do CCB

BIGODES, GATOS E SACARRABOS

Solução final:

RESSONAR

[Ni]

MULTIDÕES

Que bom é saltar para fora da multidão,

sentir que nunca lhe pertencemos!

Olhar de soslaio para os indivíduos que se acotovelam,

minutos depois de conseguir emergir da amálgama

para poder respirar...

[Jorge Salgado]

LONTRA DE ESMERALDA, O SR.PHILIP KAUFMAN

Durante a preparação e posteriormente no rescaldo dos Óscars, penso sempre, ano após ano, nos grandes filmes a que fui assistindo ao longo da minha, ainda curta, vida!

Portanto, queria deixar aqui um grande agradecimento ao meu realizador de eleição, a quem eu de bom grado entregaria um LONTRA DE ESMERALDA, o sr. Philip Kaufman.

No meu ano de nascimento, 1979, saiu o 'The Wanderers', com uma banda sonora catita bem ao nível das ruas do Bronx nos anos 60 e ao ritmo dos gangs de rua, do imaginário pessoal que foi sendo construído pelos filmes que foram alimentando a minha infância.

'Thomas e Sabina', A Insustentável Leveza do Ser.

Já em 88, o mesmo senhor criou o filme que me apresentou a obra do senhor Milan Kundera, 'A Insustentável Leveza do Ser', com um Thomas soberbo, cujo modus vivendis põe em causa tantos preconceitos que a educação tradicional foi criando, e uma panóplia de personagens,

algumas intemporais outras de cariz tão soviético,

que apresentam um colorido especial à estética do cinema -arte.

Em 90 volta a colocar em causa os valores societais, com 'Henry & June', com os anos 30 parisienses a servir de pano de fundo à vida de Anaïs Nin e Henry Miller.

Aqui oferece belas paisagens, muita sensualidade e um grande momento de cinema,

qualidade que se mantem ao longo da sua filmografia.

Obrigada Sr. Kaufman, pelas horas infindáveis de lazer...