PEQUENOS SERES AZULADOS
Pequenas bolhas prestes a ser gente, pequenos seres que ainda não compreeendiam na sua plenitude as pequenas incoerências da vida, gente para quem a perda de um berlinde custava uma noite de choro fungoso e uma manhã de olhos inchados como papos esponjosos de carne rósea.
Mais tarde os seus olhos, já habituados ao giz, às letras e aos númeors, com os olhos instrumentalizados para a leitura e a mente adepta do cálculo, começavam a fundir-se naqueles tons monocromáticos, começavam a descer calmamente a rua, e a subi-la penosamente no regresso, começavam a preferir uma cor, deixavam para trás as questiúnculas do jogo do elástico ou as rixas da linha da baliza...
Tingiam-se individualmente na superfície vítrea do espelho, os papos de choro pueril tornaram-se olheiras cinzentas de cansaço...
As pequenas minudências que os transformavam em seres com pensamentos intangíveis, desapareciam perante sólidas questões que os perseguiam rua acima, rua abaixo, rua acima, rua abaixo...
1 Comments:
:) um belo, belo texto. muito belo. bem escrito e pertinente. infelizmente olha, é mesmo assim. não há nada mais colorido que as crianças e é triste pensar que elas crescem e vão ficar cinzentas como nós todos. as coisas são assim. estão construídas dessa forma. é mesmo triste.
agora estou deprimido com isto. mas olha, o teu texto está muito bonito. apreciei imensamente. :) fez-me lembrar um poema meu de há muito tempo. vou procurá-lo.
pequena lontra, há poucos sítios agradáveis como este instalados na blogosfera, deixa-me cá dizer-te.
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